Contra rock de estádio, selfies e 'perguntas idiotas': Chrissie Hynde e Pretenders voltam ao Brasil
Aos 73 anos, dona de hits como 'Don't Get Me Wrong' e 'I'll Stand by you' é atração do C6 Fest, em São Paulo, neste sábado (23). Relembre sucesso, polêmic...

Aos 73 anos, dona de hits como 'Don't Get Me Wrong' e 'I'll Stand by you' é atração do C6 Fest, em São Paulo, neste sábado (23). Relembre sucesso, polêmicas e entrevista ao g1. Atração do C6 Fest neste sábado (24), em São Paulo, Chrissie Hynde não gosta de tocar em estádios. A cantora e guitarrista de 73 anos teve muitas chances de fazer isso após o sucesso de rocks dançantes (como “Back on the Chain Gang” e “Don't Get Me Wrong”) e de baladas românticas (“I'll Stand by you”, ai ai) entoados pelo Pretenders. “Não gosto desses lugares grandes”, ela já disse ao g1. “Ah, não é tão divertido, né? Se eu estou na plateia, gosto de ficar andando, de ver o artista de perto. Quero dançar se quiser. Se eu estiver no palco, quero poder ver todo mundo e talvez vou notar alguém dançando e daí posso assistir esse cara por um tempo. Mas quando você está olhando para um mar sem fim de gente, parece que você não vê ninguém direito. É mais impessoal." "Esse tipo de turnê aí não é rock n' roll. Rock é tipo um clubzinho de merda. Rock é quando alguém derrama cerveja em você. Eu faço shows maiores se me chamarem, claro. Mas me dê um club ou um teatro em um dia qualquer, que eu troco por isso na hora." Nos últimos anos, o Pretenders abriu turnês de Guns N' Roses, Foo Fighters e Phil Collins. O show mais marcante no Brasil também foi para uma plateia gigante. A banda tocou no Hollywood Rock, em 1988, após quase se apresentar no primeiro Rock in Rio, três anos antes. “Estávamos tão empolgados, mas tudo o que eu conseguia ver era um mar de cinegrafistas e eu não gosto de ser fotografada e filmada quando estou trabalhando. Acho perturbador.” Essa sensação explica a atitude intempestiva no show. "Quando as câmeras começaram a gravar, eu mandei todo mundo se f... Quando saí do palco, pensei que a banda seria convidada a deixar o país... Depois, vi que estavam felizes que eu tinha xingado as câmeras. A partir daí, tudo ficou mais divertido.” Nos anos 2000, a relação com o Brasil se estreitou. Moreno Veloso, Domenico Lancellotti e Kassin viraram parceiros. “Eu fiz uma turnê com eles e foi aí que eu me apaixonei pelo Brasil. Eu não sabia que Moreno era filho do Caetano, eu só o vi tocando violoncelo. Daí um produtor me perguntou se eu gostaria de fazer uma turnê acústica no Brasil. E eu disse: ‘Só se aquele cara fizer comigo’. Ele disse que sim, e foi a melhor experiência musical que já tive. Foi fantástico.” Punk universitário O Pretenders na capa do álbum que de mesmo nome, lançado em 1980 Reprodução Christine Ellen Hynde nasceu em Akron, no estado americano de Ohio, e vivia indo para Cleveland para ver shows. Pirou com Iggy Pop, por exemplo. Na Kent State University, participou de sua primeira banda, a Sat Sun Mat, com Mark Mothersbaugh, que depois lideraria o Devo, grupo pioneiro da new wave. Na universidade, presenciou o protesto contra a invasão do Camboja que terminou com quatro estudantes assassinados por policiais, incluindo um amigo dela. O episódio inspirou a música “Ohio”, de Neil Young, e acelerou a saída de Chrissie da faculdade. Em 1973, ela se mudou para Londres. Trabalhou no “New Musical Express”, mas odiou atuar como jornalista cultural. Saiu do hypado semanário inglês dizendo que críticos não sabiam de nada. Foi chamada para um emprego na Sex, loja da estilista Vivienne Westwood, a meca do punk britânico de onde surgiram bandas como o Sex Pistols. Chrissie viu tudo o punk surgir bem de perto e quase se casou com o baixista Sid Vicious para conseguir uma autorização de trabalho no Reino Unido. Ela riu das piadas do vocalista John Lyndon e até hoje é amiga do baterista Paul Cook. Chrissie Hynde, do Pretenders, em foto da fase 'Relentless', álbum de 2023 Divulgação/Parlophone Hoje, Chrissie e o baterista Martin Chambers são os únicos do começo da banda, formada na Inglaterra, em 1978. Juntos, reencontraram o prazer de estar em estúdio fazendo álbuns, graças à parceria com Stephen Street, conhecido por lapidar o som de bandas como Blur e Smiths. “Ele é o que você chamaria hoje em dia de ‘old school’. Não tem truque de estúdio: ele faz as pessoas tocarem os instrumentos, a banda toca junto. Sempre gravamos e gravaremos assim.” “Pretenders”, primeiro álbum da banda, foi criado dessa forma. Lançado em 1979, trouxe o primeiro hit do grupo. “Brass in Pocket” liderou a parada britânica na primeira semana dos anos 80. Em 1983, ela teve um filho com Ray Davies, do Kinks. Dois anos depois, nasceu a filha do casamento com Jim Kerr, do Simple Minds. Falar da vida pessoal, no entanto, é algo que ela odeia. Chrissie tinha fama de dar patadas em jornalistas. Dizia não tolerar “perguntas idiotas”. Quando conversei com ela, foi ao mesmo tempo solene e gentil. Ela pensava antes de responder, sem receio de encurtar respostas se fosse o caso. Quando lançou sua autobiografia, em 2015, causou polêmica ao assumir a responsabilidade por ter sofrido uma agressão sexual: disse que todos estavam “chapados” se divertindo. Em uma entrevista sobre o trecho controverso, comentou: “Se estou andando de calcinha e estou bêbada, a culpa seria de quem mais?” Ela foi cobrada por essa declaração e se explicou: “Só estava contando minha história, não sou a porta voz de ninguém. Se não gostou do que disse, não compre o livro.” Entre baladas e rocks dançantes Chrissie Hynde e os Pretenders, nos anos 80 Divulgação Quem ouve Pretenders gosta da banda pelas baladas e pelas faixas mais agitadas. Ao escolher compor, você pensa em agradar esses fãs? “Quando você está gravando, claro que espera que gostem, mas você não está pensando... no começo, você está criando o álbum para expressar o que deseja, o que gosta e, se as pessoas gostam, isso é ótimo. Você não pode dar ao público o que ele quer. Mas eu acho que se você fizer 12 músicas iguais, pode ser um pouco chato." "São três tipos de músicas que a gente gosta de fazer: as que são punk rock; também temos umas coisas mais rockabilly, eu acho; e as baladas. Elas são ótimas, são divertidas para cantar. É nosso som clássico.” Além dessa sonoridade, Chrissie e o Pretenders são associados à new wave e ao punk. O que nos leva a uma pergunta batida para a qual pensei que ela teria uma boa resposta: o que é ser punk hoje? “Punk sempre foi uma espécie de atitude anti sistema”, ela explica, direta como sempre. “Mas, por outro lado, era e não era. Foi uma coisa específica. Punk era sobre como destruir tudo o que estava acontecendo e começar uma coisa própria. Foi feito por fãs de música, mas fãs de música que não sabiam tocar muito bem. Era uma espécie de anti rock progressivo." O sucesso a fez ter que lidar com a fama. Segundo ela, foi o maior ônus da carreira. Se você a ver por aí e quiser puxar papo, um aviso: ela prefere falar sobre meio ambiente do que sobre música. E prefere falar sobre música do que posar para selfies, sobretudo durante refeições. Pretenders, de Chrissie Hynde, na fase do álbum 'Hate for sale', de 2020 Divulgação/Matt Holyoak Vegetariana desde os 17 anos, ela já foi presa em protestos pelos direitos animais. Filiou-se ao Peta (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais), teve restaurante vegano e disse que só mataria um animal se ele tentasse matá-la. Hoje, tem uma fazenda ahimsa, termo para definir empreendimentos que não causam dor aos animais. As 40 vaquinhas de Chrissie pastam em Rutland, na Inglaterra. Além de uma alimentação saudável, que outros cuidados tomar para seguir cantando bem? “Bem, obrigada por dizer isso, mas eu diria que minha voz não está em ótima forma", ela despistou. "Eu não faço nada, sou uma cantora de rock. A gente aprende a cantar ouvindo rádio... e é isso. E eu parei de fumar. Então, isso ajudou muito.” Hoje, seu maior vício talvez seja uma caneca grande de chá preto. “Todo mundo da minha geração fuma. E então, eventualmente, todos param e essa tem sido uma das grandes coisas do progresso, da evolução da nossa sociedade: o tabagismo meio que acabou, se comparado ao que era. Pra mim, foi ótimo. Todo mundo que canta tem que encarar essa verdade uma hora: se você canta e fuma, vai destruir sua voz.” Onde quer que esteja, Chrissie tem “praticamente a mesma rotina”. “Tenho me dedicado à pintura… Fico ocupada pintando, gravando, lendo, escrevendo. Não fico ouvindo muita música… Mas acho que só há uma maneira de julgar uma música. Se toca no rádio, quero mudar de estação ou não? Você pode gravar uma música e alguém descreve como ela foi feita... e pode parecer, pela descrição, que você vai odiar, mas você pode adorar.” Programação do C6 Fest 2025 Onde: Parque Ibirapuera - Avenida Pedro Álvares Cabral, São Paulo Ingressos: de R$ 224 a R$ 1.000 22 de maio (quinta-feira) Auditório 20h – 21h20: Mulatu Astatke 21h40 – 22h40: Amaro Freitas Septeto 23h – 00h: Arooj Aftab 23 de maio (sexta-feira) Auditório 20h -21h: Kassa Overall 21h20 – 22h20: Brian Blade & The Fellowship Band 22h40 – 0h: Meshell Ndegeocello 24 de maio (sábado) Arena Heineken 16h -17h: Beach Weather 17h30 – 18h30: Stephen Sanchez 19h – 20h15: Pretenders 20h45 – 22h: Air toca “Moon Safari” Tenda Metlife 14h30 – 15h20: Agnes Nunes 15h50 – 16h40: Peter Cat Recording Co. 17h10 – 18h10: Perfume Genius 18h30 – 19h30: A.G. Cook 20h – 21h15: Gossip 25 de maio (domingo) Arena Heineken 16h -17h: SuperJazzClub 17h30 – 18h30: Cat Burns 19h – 20h: Seu Jorge e convidados no Baile à La Baiana 20h30 – 22h: Nile Rodgers & Chic Tenda Metlife 15h -15h50: Thalin, Iloveyoulangelo, Cravinhos, Pirlo & VCR Slim apresentam Maria Esmeralda 16h20 – 17h20: English Teacher 17h50 – 18h50: The Last Dinner Party 19h20 – 20h50: Wilco